Monday, December 04, 2023

EDITORIAL

“BORGONHA MAS MORTU”

Novembro 09, 2019
  

O país vive momentos particulares subsequentes ao término de mais uma legislatura, a NONA, depois das grandes atribulações animadas pelos actores políticos na sua frenética e permanente luta pela conquista e exercício do poder político.

Foram quatro anos que se arrastaram para cinco, marcados principalmente por jogos políticos de natureza diversa, em que foi observada a sobreposição dos interesses pessoais aos de índole nacional. Assistiu-se a novas formas de exercício do poder em que a mediocridade subjugou a meritocracia, os intelectuais deixaram-se arrastar quais condenados ao cadafalso, ao exercício de práticas e comportamentos de baixo nível, em que se destacam bajulações, intrigas, corrupção, nepotismo, tribalismo, regionalismo… Sem contar com o narcotráfico cujos contornos estão por definir com a clareza suficiente para que se saiba quem é quem para que a justiça funcione e faça o que dela se espera. De tudo se viu um pouco nessa maré em que navegaram políticos da chamada nova geração aconselhados por “garandis” que perderam o norte tal como hoje perderam o respeito da sociedade em geral.

Como é óbvio, isso provocou estratificações na sociedade, polarizou as preferências dos cidadãos levando familiares a dividirem-se, amigos e conhecidos também, por, alegadamente, não se reverem nas mesmas linhas político-partidárias definidas pelos protagonistas e nem no alinhamento dos valores sociais que a generalidade dos guineenses defende.

A coberto da implementação do direito elementar do cidadão – o direito de ser informado consagrado na Constituição da República – nesse período por todos os cantos do país circularam inverdades periclitantes, mal-intencionadas, que quase puseram em risco a paz social e nacional; as agitações causadas por atoardas lançadas a esmo carentes de autenticidade ergueram-se e ainda se manifestam, como um dos desafios maiores para os Media. Profissionais arrastam-se no lodaçal da desgraça a cada dia que passa principalmente por não conseguirem fazer mais do que servir os senhores que lhes dão acesso aos seus bolsos garantindo-lhes benesses diversas momentâneos que se diluem com o tempo mas, sem contudo deixarem de fazer mossas na carreira profissional e na vida de cada um.

Como conseguir informações credíveis num ambiente de desordem em todos os níveis? Como actuar de forma responsável nestas circunstâncias em que, tal como no lusco-fusco “todos os gatos são pardos”. Há muitos reptos para quem deseja ter acesso às informações credíveis, transparentes, equidistantes em relação aos poderes que, por representarem interesses disjuntos, colidem em Bissau.

Há como que uma epidemia generalizada de desrespeito. Todos os valores tidos por mais sagrados são pisoteados e deitados no lamaçal em que chafurda gente sem escrúpulo dotada de maior capacidade de mudar de cor do que um camaleão em pleno uso das suas faculdades.

E assim, quando a verdade deixa de ser verdade e a mentira é transformada em verdade, por personalidade que exercem funções de responsabilidade, tudo é permitido: brincar com coisas sérias; comprometer o povo e a Pátria; desvirtuar o processo de desenvolvimento; comprometer a paz e a estabilidade, comprometer as relações bilaterais e multilaterais… E, até gerar clima susceptível de incendiar os ânimos e levar o país a extremos que podem fazer verter sangue e lágrimas abundantemente.

De crise em crise, o povo assiste de alguma forma perplexo as orquestrações de situações que podem comprometer as suas esperanças e a sua parca confiança tanto nos dirigentes actuais como nos próximos e no seu futuro nos tempos vindouros.

Como “sombrinha di sapu” (cogumelo) nasce e desaparece gente que quer ser “matchu” mas não sabe como fazer para chegar a esse patamar ou faz tudo à sua maneira fundo dos padrões clássicos que se baseiam no servir bem, com qualidade e ao serviço dos interesses superiores dos que representa… Faz asneira com a intenção de mostrar “matchundadi” e acabam por cair no ridiculo aos olhos dos cidadãos nacionais e do mundo esquecendo que a sabedoria popular diz que “BORGONHAS MAS MORTU”. É verdade. Em determinadas circunstâncias, se não todas, a vergonha pode ser pior que a morte. Quando se morre vai-se com a vergonha, ela não fica; mas, enquanto se vive a vergonha mantém-se viva e acompanha KIM KU PASA BORGONHA durante a sua existência e fica registado na sociedade e na sua família…

Por isso é aconselhável que, quando não se “apanha os pés” (não entende) de qualquer assunto ou matéria se pergunte a quem sabe, ao versado, com experiência bastante para que a margem do erro seja a mais reduzida possível…