A entrevista com o arquiteto Carlos Teixeira de Barros, “Carlitos Barros”, teve lugar no seu atelier no Bairro de Chão de Papel, Rua Justino Lopes, em Bissau no meio de quadros acabados e algumas telas com linhas e traços “ininteligíveis” para o leigo, mas que darão origem a mais obras-primas. Um espaço simples, agradável, sem grandes aparatos, mas cheio de simbolismo e de valores onde o artista dá largas às suas inspirações.
Foi uma entrevista interessante, daquelas que, à medida que discorrem, novos assuntos vão fluindo agradavelmente. CARBAR é uma fonte de experiência, de várias vivências na Guiné-Bissau, na Europa, e, pelo mundo fora. De expressão tranquila fala com a simplicidade que carateriza quem sabe e domina o tema da conversa. Inspira respeito pelo que sabe e pela sua capacidade.
Conhecido no mundo artístico por CARBAR, o conceituado escultor e artista plástico, afirma que o governo tem colocado barreiras aos jovens que pretendem realizar os seus projetos privados.
“Havia uma associação criada pelos jovens escultores guineenses que agora ficou parada devido a falta de amparo da parte do governo”, recorda o artista com alguma tristeza para vincar a ausência e a necessidade de uma organização, um espaço de debate dos artistas.
Carlos Barros considera que a cultura guineense está a ser banalizada pelas entidades políticas do país, “devido ao fraco nível cultural e educacional” mas faz questão de sublinhar que nunca esperou nada do governo antes, pelo contrário, “o governo é que beneficiou” do seu trabalho enquanto combatente da liberdade da pátria, desde 1963, marcando toda a sua juventude. Diz que, em troca, só tem recebido uma “misera pensão cheia de aldrabices”.
“A cultura vem de uma educação de base. A ausência da educação leva com que as pessoas se coloquem além da cultura”, afirmou. Para o artista plástico “existem governantes sem nível académico e incapazes de comunicarem com a camada juvenil”.
Reconhece que no passado, antes do golpe de Estado de 14 de Novembro (1980), houve uma situação muito forte em que o país esteve bem engajado em matéria da cultura devido a dedicação do então presidente que era “muito curioso” e tinha orgulho de elevar o país ao nível cultural.
O elevado nível cultural do presidente fez com que se dedicasse ao relançamento da cultura nacional. “Na altura, havia um ballet nacional, denominado ”Esta é a Nossa Pátria Amada”, que era muito forte ao nível da África e que hoje acabou por desaparecer devido ao sentido negativo dos dirigentes do país.
“Os governantes guineenses acabaram por ignorar a essência da cultura provocando o desaparecimento do próprio ballet nacional que até ao momento conta com grandes artistas jovens que hoje em dia estão praticamente abandonados, sem, no entanto, poderem beber da cultura dos tempos passados.” .
Muitos artistas marcaram a vida cultural do país, nomeadamente, Binghatéba (do ballet nacional) e Flora Gomes (cineasta) que agora são figuras desconhecidas do público guineense.
“Por exemplo temos o caso do Ernesto Dabo que devia ser uma referência nacional e um modelo para a nova geração”, referiu o artista ao falar dos intervenientes na música nacional.
Carlos Teixeira de Barros lembrou ainda o artista José Carlos Shwartz cuja obra é conhecida em todo o país como sendo o trabalho do “pioneiro da música moderna guineense”, mas, o próprio autor nem por isso porquanto a sua imagem, a sua vida não estão bem difundidos. Ainda referiu outras figuras como é o caso de Duco Castro Fernandes, Gunda, Ciro e muitos outros desaparecidos ou abandonados com o tempo, de que não se fala agora no país.
Lamentou, também, o facto das obras de Flora Gomes nunca terem sido objeto de convite da parte do governo para participarem em simpósios, uma forma de divulgar a cultura nacional.
Sobre a aderência massiva dos jovens mais ao campo político do que cultural, o artista plástico disse que tem a ver com o nível cultural dos dirigentes políticos guineenses que acabaram por arrastar a juventude para o desamparo a nível cultural proporcionando-lhe uma fraca educação.
“Tal situação, associada ao défice da balança de pagamento do país, que é muito fraco, leva a que os próprios pais não tenham suporte para dar uma educação eficaz aos seus filhos”, observa em tom crítico CARBAR.
O artista continuando em tom crítico adianta que “diferente desta situação, há pessoas que não trabalham mas tem o privilégio de receber salários e subsídios exagerados que não correspondem aos seus rendimentos laborais.”
Por outro lado, lamenta a situação dos jovens guineenses que caíram na delinquência, alcoolismo e consumo de drogas como refúgio para os seus problemas sociais.
“O consumo de drogas ganhou proporções importantes graças as pessoas que têm capacidade económica, pois, são pessoas da classe empresarial e política que arrastaram a classe juvenil ao desamparo. Hoje em dia, grande parte de jovens se encontra mergulhado na delinquência. Mas há grupo de adolescentes que revelam qualidades e precisam do apoio do Estado para a realização dos seus trabalhos”, apontou.
Carlitos Barros conta que lecionou vários jovens que passaram como ministros, outros são advogados, mas que não beneficiam do apoio do Estado.
“Se há cultura num país, aquele país pode desenvolver-se, mas um país sem cultura não pode desenvolver-se”, disse Carlitos Barros.