Para medir a temperatura do estado da saúde democrática de um país, há que estudar todos os sintomas da estrutura social e política do país. A relação entre a estrutura social e política é uma relação intemporal.
O que é que se passa entre os religiosos e os políticos da Guiné-Bissau?
Depois da quizílias entre a família franciscana e uma associação religiosa muçulmana, agora, é no centro do Partido MADEM-G15 que a problemática religiosa se introduziu.
Pode ser ou é esta a verdadeira razão do conflito egocêntrico do MADEM-G15?
Desde quando é que a classe politica escolhe a data das rezas religiosas?
Nestes últimos anos, assistimos à luta de classes sociais na nossa bendita e maldita cidade de Bissau, o egocentrismo das supostas elites não deu resultado, optamos pela opção explosiva: a guerra Religiosa e étnica. As ultimas eleições foram marcadas por símbolos religiosos e étnicos que ocultaram totalmente os debates de ideias sobre o futuro do país e o bem-estar do povo.
A história política nasceu da religião; as duas grandes religiões do mundo, são as mães de toda a forma política. A religião nasceu da filosofia, e esta, a filosofia, nunca se interessou em exercer o poder sobre as pessoas. A religião optou em ocupar o poder mental dos crentes, mas, na realidade a religião nunca deixou de fazer a política. Todo o sistema religioso dispõe de uma génese política.
A estrutura social é o que define o estatuto social de um povo, a composição da estrutura social só consegue funcionar quando o povo dispõe de poder social suficiente para julgar a ação social. A estrutura social é inseparável da sua parceira, a estrutura política. Tanto quanto se sabe a diferença que se vive nestas duas estruturas podem ser as suas riquezas assim como podem ser o seu veneno.
A história da humanidade revigora os efeitos nefastos do veneno da estrutura social ou política, a guerra entre os protestantes e os católicos é das mais devastadoras da humanidade, a réplica histórica não é somente religiosa, as guerras civis causaram e causam mortos na maioria dos países do mundo.
A estrutura religiosa é da composição social. A sua primeira e a principal missão é a defesa da paz social, porque a paz social não se limita somente à ausência de tiros, mas à realização de um grande trabalho social.
Não se deve limitar à religião apenas ao carácter de crença em Deus uma vez que a crença em Deus é do domínio privado, mas crença religiosas tem como particularidade, o agrupamento das pessoas unidas pelas suas crenças individuais. Isso é que caracteriza a religião como domínio público. A sua função no domínio é participar na construção política da nação.
Se os políticos deixaram o espaço político aos religiosos é porque estamos em deficiências estruturais no país. Não estou a defender a ideia de que, os religiosos não têm direito de fazer a política, porque todo o cidadão tem o dever e dispõe do direito de fazer política.
Na realidade quem deve fazer política?
Há muitos que confundem ação política com fazer política. é paradoxal pensar que não devemos distinguir estas duas formas de política. Para o Filósofo Aristóteles, todo o homem é um animal politico. Neste caso, cada homem é responsável de defender a sua ideologia política; mais uma vez, a defesa da ideologia política é da esfera privada. Quando se engaja num partido político, a ideologia pessoal junta-se à ideologia do partido em que aderimos. Por isso, é, para isso, que a nossa convicção religiosa não se deve confundir com a ideologia política.
Fiquei surpreendido pelas querelas dos Franscanos com os Muçulmanos? Não. Elas revelam uma velha disputa política que nasceu no centro do primeiro e o único partido político, PAIGC. O PAIGC foi um partido construído pelo povo, por uma causa nobre: a luta de libertação. Mas este partido esteve e está sempre na origem das guerras ideológicas inconsequentes. A guerra da liderança neste partido deixou de ser guerra de convicções políticas para tornar-se, de uma maneira discreta, em guerra de classe: os cristãos civilizados contra os muçulmanos iletrados e os aministas esquescidos.
Todas as divergências ideológicas são nobres quando as consequências destas divergências servem para manter ou para promover a paz social. Vendo os diferentes conflitos religiosos, o que consigo aperceber é uma guerra egocêntrica, nada mais. Mas, o tempo, o estado do mundo com a pandemia, nem podemos falar das dificuldades econômicas e das infra-estruturas em que o país se encontra, a energia dispensada nessas guerras podia ser investida para construir a esperança não o desespero. Deviam trazer a mensagem da vitória contra a miséria e não ser veículo de mensagens políticas.
A estrutura política precisa de reconstruir uma imagem coerente, e, definir um espaço de combates ideológicos dentro das regras democráticas. É urgente fazer funcionar o ringue de combate político: Assembleia Nacional Popular (o parlamento).
A estrutura social religiosa deve unir para aumentar a credibilidade junto dos fiéis assim como perto dos que estão a precisar grandemente de palavras de esperança e de paz que as igrejas e as mesquitas sabem expandir.
A Guiné-Bissau tem uma composição de crenças religiosas que a caracteriza: os animistas são a maioria. Cada Guineense acredita nas crenças familiares que estão inteiramente enraizadas na sua estrutura genealógica. Essa é uma das maiores riquezas de ser Guineense. É que, todos nós somos cristãos, assim como todos nós somos muçulmanos, mas nem todos nós somos políticos. Os guineenses acreditam na união religiosa em qualquer momento da nossa história.
A questão da política governativa pertence aos profissionais da política. A problemática da miséria política do povo é da ordem de todos. A estrutura social e política deve trabalhar unanimemente para trazer ao povo a rica paz de que tanto necessita. Não se deve utilizar a religião como se usa um guarda-chuva quando chove abundantemente.