Por: Ernesto Dabo
“Ativismo não é dizer que isto ou aquilo está mal.
Ativismo é tentar mudar o que está mal! É ir a procura de soluções para os problemas. É mostrar caminhos…
Aquele que levanta problemas sem tentar mudar a situação não é um ativista … mas sim um cardápio de problemas”!
Ligia Herbert
Quis a natureza fazer de 10.000 Km2 da nossa terra, Guiné-Bissau, um arquipelago de 88 ilhas e ilheus, das quais, 21 são habitadas sazonalmente e 18 de forma permanente, por uma população de 32.400 cidadãos guineenses. É neste território fragmentado no oceano, com diversas variáveis de isolamento, que os ilheus resistem há seculos, unidos e guineenses, a todas as vicissitudes que a história lhes impôs e impõe. Esta Região, outrora disputada pelas principais potencias coloniais, conheceu dias de prosperidade e glória, particularmente desde sua elevação a Cidade Capital da Guiné, até que, “ em 1933, a “Carta Orgânica do Império Colonial Português” previu a mudança da cidade capital para Bissau, algo que só viria a suceder em Dezembro de 1941, mas que desencadeou a transferência de inúmeras repartições públicas e funcionários, logo a prtir do começo da decada de trinta”. É neste periodo da nossa história, que tem inicio o dramático “esvaziamento” da cidade de Bolama e, consequentemente, de toda a região insular, processo ou retrocesso esse, que continua até aos dias de hoje. Não creio que seja por desígnio de Deus que a Região de Bolama-Bijagôs se encontra na inaceitável, porque desumana, situação de abandono e extrema pobreza dos seus habitantes. Permitido nos seja, questionar: haverá algum entendido em economia ou outras ciências, que admita que uma zona classificada pela UNESCO como reserva da biodiversidade, não tenha recursos para se desenvolver e assegurar melhor qualidade de vida a uma população de menos de 40.000 habitantes? Derivando do conceito de biodiversidade, vejamos apenas duas potencialidades económicas presentes na Região, para constatarmos que a falta não é de recursos do ponto de vista económico, mas sim de outra narureza, como o referiremos adiante.
A maior fatia das 200 milhas maritimas da nossa Zona Económica Exclusiva
A maior fatia das 200 milhas maritimas da nossa Zona Económica Exclusiva, é adjacente ao arquipelago de Bolama-Bijagôs, ou seja, a maior e mais importante zona pesqueira do país, situa-se nesta região. Como compreender que desta actividade económica que rende biliões de francos Cfas, não se reserve uma pequena parcela desse rendimento para se desenvolver a Região em que é essencialmente realizada e melhorar progressivamente, a qualidade de vida de menos de 40 mil almas? Outra actividade potencilamente cimeira da economia nacional, é o turismo. Dentro e fora do país, sabe-se que a zona turistica por excelência da Guiné-Bissau, é a Região de Bolama-Bijagôs. Como compreender que desta actividade económica, que tambem rende biliões de francos Cfas, não se reserve uma fatia desse rendimento para o desenvolvimento da região e se oferecer melhor qualidade de vida às suas populações? Julgamos não valer a pena nos esforçarmos para formular resposta a estes questionamentos.
É nossa firme convicção que, o principal capital a investir em qualquer projecto humano, é o capital do conhecimento, ou, dito de outra forma: capital intelectual, detido por gente com a devida cultura ética. O país tem recursos mais que suficientes para se desenvolver bem e depressa. Mas como conseguir isso, se nas esferas de condução da sociedade, não se promove e defende a competência e experiência, de forma a que consigam hegemonia, ou seja: porque não tornar cada vez mais exigentes, os critérios de elegibilidade a cargos publicos?
Decorridos mais de duas décadas de sistema democrático no nosso país, continuamos icompreensivelmente com uma democracia amputada e míope. Amputada, porque ainda hoje não temos autarquias eleitas pelas populções nas respectivas localidades. Míope, porque assim, ela não pode ver bem as reais necessidades e problemas da esmagadora maioria da população, que reside nas regiões. Esta situação, atinge a dignidade das nossas populações, principalmente as do interior do país. Saber que as suas vidas são dirigidas, no quotidiano, por quem o governo que o povo elegeu quiser e não por quem constitucionalmente tambem esse mesmo povo tem o direito de atribuir o poder local, via eleições autárquicas, é ofensivo.
Excelência, Sr. Presidente da Republica, na sua qualidade de garante da Constituição, faça uso das suas prerrogativas e influência, para se pôr cobro a esta situação que descaracteriza o nosso Estado e, em última instância, prejudica o normal funcionamentos das instituiçoes da Republica, à escala do territorio nacional. Vivemos factualmente numa paradoxal situação de “apartheid”, num Estado que se pretende democráticoe e de direito. Nesta nossa amada Guiné-Bissau, o poder central é eleito democraticamente via eleições; o poder local é imposto, por designação.
É injusto manter a administração local como espaço de “labaremo” a angariadores de votos e outros prestadores de serviços eleitorais ou partidários. Sendo as Regiões pulmões da nossa economia, se não forem dirigidas com competência, por dirigentes qualificados, experientes e eleitos pelas comunidades locais, às quais tenham que prestar contas; os frutos dos mandatos seguirão sendo insuficientes para que haja desenvolvimento do país e assim se garantir a paz e estabilidade, que tanto almejamos e merecemos.
A Região de Bolama-Bijagôs precisa apenas e urgentemente, de uma “função económica”, para se reerguer. Nô cansa dja “tchora pena”.
Mantenhas