Por: Humberto Monteiro
Não restam dúvidas de que, nós todos, guineenses, residentes no país ou na diáspora, por tudo quanto vivenciamos durante a luta armada da libertação nacional e, posteriormente, em consequência dos reiteradas casos que ceifaram vidas, somos por demais sensíveis às situações que podem conduzir ao despoletar de qualquer balbúrdia indesejável.
Depois dos acontecimentos que marcaram a fase pós-eleições, disputas entre políticos que envolveram alguma intervenção castrense, o receio duma crise cresceu ao ponto de ninguém poder vaticinar com propriedade como será o futuro próximo da Guiné-Bissau, se será marcado de estabilidade duradoura ou, pelo contrário, a paz reinante vai se apodrecendo até ao limite de estourar provocando agitações sociais incomensuráveis.
No meio disso tudo, cai no país como uma bomba, a notícia da oferta de cinco milhões de dólares dos EUA (dois bilhões e oitocentos milhões de francos CFA) pela cabeça do antigo chefe do Estado-maior das forças armadas enunciado numa linguagem soft como recompensa por “informações que levem à detenção ou condenação”. O facto do wanted não dizer “dead or alive” pressupõe intenção de fazer justiça com base em leis à leste da nossa Lei Magna, sem vantagens aparentes que possam repercutir de algum modo internamente.
Mas apesar disso persistem dúvidas quanto a pertinência desse gesto, vindo de quem vem, com dezenas de personalidades muito mais dangerous e incomparavelmente mais influentes, espalhados pelos quatro pontos cardeais do mundo, sobretudo américas.
Sem querer pôr a mão no fogo por quem quer que seja, simplesmente referimos o facto dessa medida não se coadunar ao momento que o país vive, de alguma agitação, precisando as autoridades de alguma tranquilidade para gerir correctamente as situações bicudas que afligem o país tendo em conta as suas fragilidades. Além disso, ao que consta o visado não está sujeito a qualquer perseguição à Luz das leis guineenses.
Ora, verdade se diga, por mais que o Guineense seja ávido da ordem e da justiça, como garantias básicas para o correto funcionamento deste Estado que se diz de direito democrático, não seguirá quem quer que seja, de qualquer maneira, supostamente em nome duma causa pouco explicada cujo conteúdo o povo desconhece.
Tirando tudo o que se disse atrás, quem, no país, no quadro do WANTED lançado pelos EUA, será o denunciante? Haverá provas substanciais no país, recolhidas pelas entidades competentes? Se sim, porque não atuaram enquadrando o suspeito nos parâmetros das leis nacionais?
As autoridades nacionais ainda não se pronunciaram nem a favor nem contra a suposta decisão do governo americano veiculada pela agência de notícias portuguesa LUSA.
O certo é que, aconteceu uma vez um oficial general foi detido, em 2023, alegadamente nas águas nacionais tendo sido subsequentemente condenado a quatro anos de prisão nos Estados Unidos depois de ter confessado crimes de tráfico de droga em 2014.
Depreende-se que, António Indjai que terá escapado “por um triz” em 2013, seja visado para corrigir o erro cometido na altura.
Facto Importante: apesar de ter passado à reserva, o oficial general é considerado personalidade de grande influência na classe castrense. Conta em seu favor o ter sabido ausentar-se, desde que foi exonerado, da vida política e do centro do poder concedendo larga margem de manobra e de decisão ao seu sucessor no posto máximo da chefia militar. Presentemente pode-se dizer que há uma relativa calma que reina na Guiné-Bissau, gradualmente as autoridades vão impondo alguma ordem no controlo e combate ao narcotráfico – algumas detenções feitas são prova disso – bem como ao consumo de estupefacientes e branqueamento de capitais.
Cinco milhões de dólares é muito dinheiro em qualquer parte do mundo, muito mais num país como a Guiné-Bissau onde nove em cada dez cidadãos vivem com um dólar ou menos de um dólar por dia. Se se tiver em conta os bilhões de dólares que têm vindo a ser gastos um pouco por todo o mundo pelos EUA no combate ao narcotráfico, chega-se facilmente à conclusão de que falharam rotundamente porquanto até esta data os sinais de sucesso nessa luta são pouco visíveis. Aparentemente, segundo a mídia internacional, por cada Capo de cartel posto fora da circulação há uma reposição automática que mantem a cadeia.
Se o bilhões de dólares tivessem sido aplicados doutra forma, nomeadamente na educação, melhoramento das infraestruturas, escolares, sanitárias e rodoviárias, e, fossem introduzidas melhorias na administração e gestão da coisa pública, possivelmente o impacto teria sido muito maior.
Na verdade, não é agradável assistir uma potência incomparavelmente superior a este país, cutucar uma figura que não está no ativo, que se limita hoje a viver oficialmente apenas como aposentado e contra o qual não impende qualquer acusação que lhe limite o pleno usufruto dos seus direitos como cidadão. Principalmente numa altura em que reina alguma estabilidade digna de referência…